A felicidade está à venda

No final de 2010, a estrela da Disney Demi Lovato teve que ser internada em meio a uma turnê. Shows na América Latina foram cancelados. Vários dias os fãs ficaram sem notícias e sem entender o verdadeiro porquê de sua internação. Ao se pronunciar, a assessoria da atriz revelou que Demi enfrentou bullying na escola, lutava contra distúrbios alimentares e automutilação. Por esse motivo, foi para uma clínica de reabilitação tratar desses transtornos psicológicos.

Demi não é um caso exclusivo. No entanto, o que chama atenção é o fato de que ela é linda, rica e famosa, ou seja, a vida dos sonhos de qualquer adolescente. Se até mesmo a estrela de Camp Rock não se sentia feliz consigo mesma, como fechar os olhos para um problema que vem atingindo cada vez mais jovens em todas as partes do mundo? O mundo adquiriu mais uma contradição para a sua coleção nas últimas décadas. A obesidade é uma epidemia mundial juntamente com doenças como a diabetes. Na contramão, o que está matando as pessoas é o culto à magreza, muitas fazem dietas loucas ou até mesmo param de comer para emagrecer. Mas em um mundo de fast-food e comida congelada, a grande maioria não tem um corpo considerado ‘bonito’.

Falando em contradições, não estaria a própria Demi Lovato ajudando a impor os mesmo padrões que a fizeram sofrer quando mais nova? O culto à beleza passou a se intensificar com a reprodução de imagens. Quando não existia a mídia para reproduzir imagens de outras pessoas, era como se houvesse pouca gente em quem se espelhar, mas, com o jornal, o cinema, as revistas, a televisão e a internet, todos os dias vemos pessoas lindas e felizes. Como todo ser humano quer ser feliz (ou quase todo, né? Porque, do jeito que está o mundo hoje, não duvido que existam pessoas que busquem a tristeza), muitos pensam que somente se tornando lindos e magros alcançarão a tal da felicidade. Alie essas informações com o fato de o indivíduo ter pessoas que zombam de sua aparência. A probabilidade de que ele vá extrapolar os limites de sua saúde para se encaixar em um padrão é muito grande.

Demi sempre apareceu em frente às câmeras linda, bem vestida e magra. Não lembra, nem de longe, a menininha gordinha de óculos e dentes separados que foi na infância. Demi Lovato era uma popstar que escondia seus próprios conflitos. E os jovens que consomem seus produtos são os mesmos que sonham em ser como ela e podem, muitas vezes, sofrer pela aparência que tem. A mídia não apresentaria um ídolo teen fora dos padrões de beleza e cheia de problemas de baixa auto-estima, isso não vende. Também ninguém explica que não é tentando ser igual às “Demis Lovatos” que você vai se satisfazer consigo mesmo.

É desvantajoso para a mídia dizer que a história não é bem assim, que não é através da compra de ideologias e produtos que eles mostram que o indivíduo vai encontrar a felicidade. Sendo assim temos uma linha de raciocínio: as pessoas zombam ou zombavam de você quando era criança? Não se preocupe, não vamos lhe dizer que você pode se tratar para não ter uma doença grave. Pelo contrário, a solução está em buscar a magreza. Assim você ficará lindo e caberá em qualquer roupa que nós mostrarmos e, de brinde, você poderá gastar muito utilizando nossos produtos de beleza.

Por isso, o aviso: distúrbio alimentar não é doença de “gente fútil”. Precisa de tratamento. Se você não está satisfeito com a sua aparência, não desconte essa frustração consumindo produtos para se encaixar em um padrão, preze pela sua individualidade. A xerox não chega nem perto da beleza da versão original.


Pâmela Meireles
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Sobre a ABJ

A ABJ é a agência júnior de jornalismo do curso de Comunicação Social do Unasp - Centro Universitário Adventista de São Paulo.

1 comentários

  1. Pâmela, você foi pontual em sua coluna. Eu gostei da forma que desenvolveu o assunto, mostrando que as mulheres vivem frustradas ao se sentirem inferior ao padrão de beleza ditado pela mídia. Isso é real! Eu conheci crianças preocupadas com a aparência, extremamente vaidosas, consumindo produtos adultos e tornando isto uma necessidade. Prezar a individualidade, como você frisou, pode ajudar a melhorar a inferioridade. Além de tudo o amor próprio é essencial para a cura deste mal. Já pensou se todas as pessoas fossem iguais? Que graça teria? Se há variações é porque existem preferências diferenciadas.

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