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Violência entre torcidas tem diminuído as médias de público. |
A briga trouxe à tona a violência entre torcidas organizadas em partidas de futebol. Somente na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2011, em todo o país, foram presos 30 torcedores, além do saldo de quatro feridos e dois mortos. Os casos de violência têm afastado o público dos estádios. Nas últimas duas edições do Campeonato, a média de público não passou de 14 mil pagantes. Número baixo comparado a edições anteriores, motivado pelos casos de violência. No próprio Paulistão, a média tem sido baixa, em 2011, o público pagante médio não chegou a cinco mil torcedores.
Existem milhares de membros de torcidas organizadas no país. Somente a Gaviões da Fiel, a maior do Brasil, possui 70 mil membros, conforme divulgado em seu site oficial. Entre esses milhares está o atleticano Túlio Souza, integrante da maior torcida organizada do Atlético Mineiro, a Galoucura. Túlio, adepto da organizada desde 2009, já testemunhou inúmeras brigas entre seu grupo e a Máfia Azul, principal torcida organizada do rival Cruzeiro. “Em todos os clássicos sempre descia muita gente para os portões por onde a torcida do Cruzeiro entrava no estádio para poder brigar”, revela Túlio, que também testemunhou pessoas de família sofrerem com as brigas. “Muita gente saía sangrando, muito policial e muita gente de família. Parecia uma guerra.”
O coronel Paulo Cabral, responsável pelo policiamento na cidade do Recife, é outra testemunha da violência nos estádios. Responsável pelos esquemas de segurança nos clássicos entre Sport e Santa Cruz, Náutico e Sport, e, Santa Cruz e Náutico, o coronel afirma ser difícil lidar com as torcidas. “Eles sempre arranjam uma forma de se confrontarem. Se não no estádio, ou nos entornos, se encontram em outras áreas da cidade em confrontos que, muitas vezes, ocasionam vítimas fatais”, declara Cabral.
Após o último clássico entre Corinthians e Palmeiras, a Federação Paulista de Futebol decidiu banir a entrada das principais organizadas dos times, a Gaviões da Fiel e a Mancha Verde.
Decisão parecida foi tomada no ano passado pelas Federações Pernambucana e Alagoana decidiram banir dos estádios as torcidas organizadas de seus principais clubes: Sport, Náutico e Santa Cruz, em Pernambuco, e CSA e CRB, em Alagoas. As decisões causaram polêmica acerca da validade judicial de impedi-los de assistir as partidas, a OAB qualificou o ato como inconstitucional, por bloquear direitos democráticos do cidadão, como o livre acesso ao lazer. O coronel Paulo Cabral acredita na pouca efetividade da decisão, alegando a superficialidade da medida. “Os torcedores podem não se encontrar nos estádios, mas ainda se encontram. E a rivalidade e o ódio entre as torcidas só tende a crescer.”
Soluções estrangeiras
O terror das torcidas organizadas não é um caso exclusivo do Brasil. No continente europeu a violência das torcidas organizadas também é sentida. Na Turquia, sede de um dos maiores clássicos do futebol mundial, e também um dos mais violentos, entre Fenerbahce e Galatasaray, a solução foi colocar apenas mulheres e crianças de até 12 anos no estádio. A decisão da Federação Turca, imposta ao Fenerbahce, teve repercussão mundial. Durante o ano de 2011, o time foi punido com a proibição da entrada de homens acima dos 12 anos de idade, devido a invasão de torcedores ao campo em uma partida da Liga dos Campeões da Europa.
O sucesso da decisão foi grande. No primeiro jogo após a punição, contra o Manisapor, pelo campeonato turco, 41 mil pessoas – sem incluir sequer um homem ou menino maior de 12 anos – lotaram o estádio do Fenerbahce. Nenhum incidente foi registrado durante a partida, que teve a segurança a cargo de policiais mulheres. A solução turca, embora excluindo milhares de adeptos que não praticaram violência, demonstrou ser uma excelente cartada, ao incentivar a presença de mulheres nos estádios, afastar as torcidas organizadas responsáveis pelas confusões e atrair um grande público para o estádio.
Decisão exemplar ocorreu também na Escócia, país que abriga o clássico de maior rivalidade do mundo, segundo a Fifa, entre Glasgow Rangers e Celtic, conhecido como “Old Firm”, e um dos clássicos mais antigos do mundo, com 124 anos de existência. O clássico, que envolve uma questão religiosa histórica, já que o Rangers é protestante, e o Celtic, católico, é famoso pelas brigas que acontecem entre os seus torcedores. Porém, a Federação Escocesa de Futebol aprovou no início de março, uma lei que proíbe comportamentos ofensivos e o fanatismo religioso no futebol do país. A punição para o ato é a exclusão do torcedor dos estádios por tempo indeterminado. Embora o Brasil não possua rivalidades relativas a questões religiosas, o exemplo da exclusão do torcedor fanático dos estádios é válido.
O exemplo cearense
No Brasil, inúmeras tentativas de prevenção da violência em partidas de futebol já foram feitas. No Ceará, policiais militares visitaram as sedes das torcidas organizadas dos arquirrivais Ceará e Fortaleza. A visita foi uma tentativa de pedir a colaboração das organizadas para evitar incidentes no clássico, realizado no domingo, 25, e conhecido pela violência entre os torcedores. Além das visitas, uma mobilização foi feita em toda a cidade, com banners, vídeos e movimentos em prol da paz no clássico. A mobilização por paz, através da ação da PM e das campanhas da Prefeitura pela não violência na partida, foi eficaz, já que nenhum caso de violência foi registrado.
Por dentro do mundo das torcidas organizadas
As torcidas organizadas do futebol brasileiro se dividem em grandes blocos de alianças. Os cinco maiores são:
União do Punho Cruzado, lideradas pela Torcida Jovem do Flamengo, Máfia Azul do Cruzeiro, Torcida Tricolor Independente, do São Paulo, Torcida Jovem do Sport e Camisa 12 do Internacional.
União Dedo para o Alto, da qual participam a Torcida Galoucura do Atlético Mineiro, a Força Jovem do Vasco, a Mancha Verde do Palmeiras, a Geral do Grêmio, a Cearamor e o Império Alviverde do Coritiba, entre outros.
União do Punho Colado, comandadas pela Torcida Young Flu, do Fluminense, a Fúria Independente Tricolor, do Paraná, e a Fúria Independente do Guarani.
A regra geral dentro desses blocos é a receptividade e a cooperação entre as torcidas organizadas. Quando um clube vai jogar contra um time da mesma união, a recepção é garantida. O ódio e a violência contra as uniões rivais também são regra entre os blocos.
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