Músico supera deficiência auditiva

Por Janaina Toledo e Karine Dias

Apesar da perda auditiva de 45%, João Batista toca
nove instrumentos.
Foto: Janaina Toledo.
Na última quarta-feira, 26, a Comunidade Surda Brasileira comemorou o Dia Nacional do Surdo. Essa data é celebrada ao redor do mundo no dia 30 de setembro, mas no Brasil se comemora no dia 26 devido à inauguração da primeira escola para deficientes auditivos, o Instituto Nacional de Surdos o Rio de Janeiro, criada em 1857. Atualmente, a escola recebe o nome de Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines).

Nessa data são relembradas as lutas que os deficientes auditivos passaram para obter melhorias na educação, saúde e trabalho. Hoje, esse grupo ainda sofre alguns tipos de preconceitos, mas já possui direitos garantidos.

 Exemplo de superação

Os sete minutos de atraso para nascer resultou em uma deficiência nos nervos auditivos, responsável em levar o som dos ouvidos ao cérebro, causando uma perda auditiva de 45%. Esses são os primeiros instantes da vida de João Batista Kzam, músico formado pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho.

Com mãe repórter e pianista e o pai militar que tocava instrumentos de sopro, Kzam teve influência musical de casa. Mesmo com a deficiência, ele aprendeu a tocar instrumentos de ouvido sozinho. “Eu tirava músicas clássicas no violão apenas ouvindo”, conta.

Mas problema só foi descoberto aos 12 anos. “Até então, as pessoas achavam que eu tinha alguma deficiência mental, não porque eu tivesse comportamento bizarro, mas por que eu não me comunicava com as pessoas, não me entrosava socialmente, eu só queria ficar lendo e ouvindo musica”, relembra.

Durante os anos de ensino fundamental, Ksam não teve dificuldades em aprender outras matérias. “Sempre tive facilidade para aprender as coisas. Ia relativamente bem em disciplinas como matemática, física, geografia e historia.”

Por causa da deficiência, criou o hábito de ler. Pegava os livros da mãe e lia. Isso fez com que, mais tarde, ele pudesse dar aulas de teoria musical para alguns músicos que hoje são profissionais.

Após se tornar músico profissional, mudou sua vertente de música clássica para popular, foi aí que sentiu algumas dificuldades. Segundo Kzam, esse tipo de música exige que toque exatamente o que está na gravação. “Eu tinha a obrigação de ouvir uma flauta para ter aquele efeito, mas é um instrumento que transita em uma região super aguda, que eu já não tenho capacidade de reter pela perda de minha frequência”, explica.

Seu grande sonho era cursar música em uma faculdade, mas teve que adiá-lo, pois os planos mudaram quando se casou e os filhos vieram logo em seguida. Assim, quando encaminhou a vida dos filhos, decidiu tornar o sonho antigo em realidade. Formou-se no curso de Educação Artística pelo Unasp, em junho deste ano.

Atualmente, ele toca contrabaixo acústico na orquestra do professor de Educação Artística do Unasp Jetro de Oliveira, e faz do conjunto de cordas experimental que é dirigida pelo maestro Daniel Sokacheski, em Artur Nogueira.

Além disso, Kzam tem uma proposta de ingressar na banda sinfônica do também professor do Unasp Jerson Arrais e possui um trabalho paralelo de piano acompanhando a confraria de saxofone do professor Ricardo Miquelino que dá aulas na Escola de Artes do Unasp e é regente da banda sinfônica de Artur Nogueira. Kzam toca piano, contrabaixo, violão, bateria, percussão, sax, trompete, fagote e trompa. “Eu toco expressando aquilo que estou sentindo. Dizem que minha partitura tem muita nota, que minha harmonia é muito cheia. Mas isso é uma coisa muito pessoal. Isso é meu”, declara o instrumentista.
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Sobre a ABJ

A ABJ é a agência júnior de jornalismo do curso de Comunicação Social do Unasp - Centro Universitário Adventista de São Paulo.

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