Rio Xingu terá seu curso desviado
devido à construção da usina |
Belo Monte terá capacidade para produzir 11.233 MW de energia, mas não deve operar com essa potência devido ao regime de cheia e seca do rio. Durante a estiagem a geração pode ficar abaixo de mil MW. A energia média assegurada é de 4,5 mil MW, o suficiente para abastecer 18 milhões de residências. Para críticos da obra, o custo-benefício não compensa. Em contrapartida o governo afirma que a energia a ser gerada é fundamental para o país.
Segundo a Norte Energia, empresa responsável pela construção da usina, o valor de custo da Belo Monte será em torno de R$ 25 bilhões, mas, de acordo com alguns analistas econômicos, a construção pode chegar a R$ 30 bilhões. Trata-se de uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma das principais bandeiras do governo federal.
Belo Monte será construída no Rio Xingu, sul do Pará. A hidrelétrica contará com duas barragens e dois reservatórios, com um canal para interligá-los. Um dos reservatórios ficará onde atualmente se encontra o rio, enquanto o outro se localizará numa região onde há pasto e floresta. A construção do canal também prevê um desvio do curso do rio, que possui 21 quilômetros de extensão. O projeto atual da usina não prevê inundação de terras indígenas, assim como o projeto inicial. Dez dessas reservas indígenas estão localizadas na área de influência da hidrelétrica e duas encontram-se situadas nas margens da chamada "Volta Grande", trecho do rio que terá o curso desviado.
Todas as comunidades indígenas da região são contra a obra. O medo é evidente nos pronunciamentos feitos pelos líderes das tribos, que temem que o desvio do rio ocasione seca na Volta Grande. Apesar de procurarem dialogar com o governo federal, as comunidades indígenas não conseguiram uma resposta concreta sobre o que lhes acontecerá. Segundo a Norte Energia, as famílias afetadas pela construção serão ressarcidas ou indenizadas em dois ou três anos.
Outra questão polêmica gira em torno da afirmação feita pela ministra do Planejamento, Mirian Belchior, que afirmou que a hidrelétrica será sustentável. De acordo com estudos recentes, a inundação da barragem deixará milhares de quilômetros da floresta nativa submersa, o que poderá gerar a liberação de gás carbônico e metano, contribuindo para o aquecimento global. Diante disso, vários protestos contra a construção da usina foram realizados, tanto no Brasil quanto no exterior (em Londres, Nova York e Sydney).
Indígenas que moram à beira do rio
temem o futuro de suas comunidades |
Mesmo assim, o IBAMA liberou liminar que autoriza o início da obra, contrariando exigências das Organizações dos Estados Americanos (OEA) e da Organização das Nações Unidas (ONU). Para o Ministério Público Federal, Belo Monte representa a violação não só dos direitos dos índios ribeirinhos e dos agricultores que hoje vivem no Xingu, mas viola o direito da natureza e o direito das gerações futuras ao desenvolvimento sustentável. “Belo Monte expõe o confronto entre o desenvolvimento a qualquer custo e os princípios do direito ambiental", declara o MPF.
Diante de das polêmicas e contradições o diretor do IBAMA, Curt Trennepohl, aumentou ainda mais as discussões em torno da construção de Belo Monte. Em entrevista ao Jornal australiano Six Minuts, Trennepohl confessou que o órgão está fazendo o mesmo que os australianos fizeram aos oborigenes, ou seja, ignorá-los. O diretor ainda disse que não possui tantas responsabilidades em relação à questão da construção de Belo Monte. “A construção já foi aprovada pelo IBAMA”, declarou ao jornal. Quando questionado se a função do órgão era a de proteger os interesses ambientais, Trennepohl afirmou que esse não é o interesse do IBAMA.
Segundo o Ambientalista Caetano Consolo, o impacto ambiental é certo. “A construção da usina vai sim gerar muitos impactos ambientais, o governo não pode nem tentar colocar em números isso, ainda mais dizer que os impactos serão mínimos”, afirma.
História de Belo Monte
O projeto de construir uma Hidrelétrica no rio Xingu já possui 36 anos. Em 1975, começaram os estudos sobre a geografia e o volume de água do local. Em 1988 a Portaria do Departamento Nacional de Águas e Energia (DNAE) aprovou os estudos de inventário. Após anos de protesto o IBAMA concedeu a licença prévia da usina de Belo Monte em 1º de fevereiro de 2010. Em 20 de abril do mesmo ano, a empresa Norte Energia venceu o leilão que lhe permitia ficar encarregada da construção da hidrelétrica.
Cley Medeiros e João Briet Junior
Com informações de: Xingu Vivo, Norte Energia, FUNAI, IBAMA e Agência Brasil
Fotos de: Anderson Barbosa /AE
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