Cresce o número de pessoas que buscam os materiais digitais

O formato digital já registrou um aumento de 202%,
só neste ano. Foto: Daniel Moreno
A rotina do universitário Rafael Cerêda é muito parecida com a de qualquer universitário, regada de bastante estudo. O estudante lê por mês, em média, uma lista de quatro livros exigidos pelo curso de Teologia. Até aí nenhuma novidade. A grande diferença é a maneira como ele pratica a leitura, sem folhear sequer uma página. Seria possível? Sim. Cerêda faz parte de uma nova geração de pessoas que estão trocando cada vez mais os livros impressos pelos digitais, ou e-books.

No mês de fevereiro deste ano, pela primeira vez em toda a história americana, a venda dos e-books ultrapassou a dos livros em formato original. Em 2012, o formato digital já registrou um crescimento de 202% contra uma queda de quase 35% na distribuição de livros impressos. “Posso encontrar todos os tipos de livros sem precisar sequer sair do quarto,” revela Cerêda.

Embora no Brasil a ‘revolução’ não tenha chegado ao patamar dos Estados Unidos, os investimentos em e-books tem sido cada vez maiores. No início deste ano o Senado aprovou a isenção de impostos para as obras eletrônicas no país, reduzindo assim o preço dos livros, uma antiga reclamação dos leitores.

"Tanto o crescimento econômico como a redução do preço tem sido fatores fundamentais para a disseminação dos e-books", ressalta o professor Tales Tomaz, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. “Como o preço está ficando mais baixo, esse tipo de material se torna cada vez mais acessível para um público que até gostaria de ler, mas não tinha condição socioeconômica para adquirir livros com frequência,” revela. Tomaz também argumenta que a internet popularizou o hábito da leitura. Segundo ele, nessa era da internet, as pessoas nunca leram tanto como estão lendo em sites, blogs etc.

Não são poucas as editoras que abandonaram suas versões impressas. Em março deste ano, a Encyclopaedia Britannica Inc., editora responsável pela publicação da Enciclopédia Britânica há mais de 240 anos, anunciou que abandonaria sua versão impressa e seguiria apenas com o formato digital.

Ainda para poucos

Para o editor Gilson Cantuário, dono da Pérgamo Edições, o crescente aumento nas vendas de livros eletrônicos não indica o fim dos impressos. “A internet e os tablets ainda não são elementos de massa no Brasil. Por mais que os e-books ganhem cada vez mais espaço no mundo atual, os nossos velhos livros no papel jamais perderão seu valor,” esclarece Cantuário. "Por mais que os e-books estejam crescendo, nada substituirá o prazer de tocar as folhas de um livro," conclui.

Segundo o Governo Federal, pouco mais de 20% dos brasileiros têm acesso a internet. O número fica ainda menor quando associado a leitura de e-books. De acordo com dados do Ibope, apenas 7% da população que declara ler regularmente, no mínimo dois livros por mês, utiliza a leitura eletrônica. “Não podemos dizer que o e-book está provocando uma revolução, mas que ele se tornou apenas mais uma mercadoria que está disponível para a utilização da sociedade,” lembra Tomaz.

Leitura eletrônica é mais superficial

Apesar do crescimento dos e-books, recentes pesquisas mostram que as pessoas tendem a acelerar o ritmo de leitura e absorver menos conteúdo ao utilizar o meio eletrônico. É o que revela, por exemplo, a pesquisa da americana Maryanne Wolf, especialista na área de neurociência e chefe do Centro de Pesquisas da Universidade Tufts.Segundo o estudo de Maryanne, a leitura eletrônica é mais superficial por prover uma série de estímulos que atrapalham a absorção e a síntese do conteúdo.

A preocupação com a conexão, bateria, caixa de e-mails, impede que os neurônios consigam fazer as conexões entre as áreas da visão, linguagem e significação de maneira mais rápida. O roteiro pode levar 100 vezes mais tempo, caso a pessoa não tenha o hábito de ler.
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Sobre a ABJ

A ABJ é a agência júnior de jornalismo do curso de Comunicação Social do Unasp - Centro Universitário Adventista de São Paulo.

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