Mudanças climáticas obrigam autoridades a buscar planos de adaptação

As alterações abruptas do clima, relacionadas ao aquecimento global expostas no relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) afetarão a produção agrícola, saúde e economia da população do Brasil. Pesquisadores e instituições do governo trabalham em um Plano Nacional de Adaptação para preparar a população para essas mudanças. Em reunião nesta sexta-feira no Rio de Janeiro se apresentará um sumário de impactos, vulnerabilidades e adaptação em procura de soluções aos problemas ambientais dos próximos anos. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), por exemplo, o aumento na temperatura foi de 2,5 graus nos últimos 120 anos.

 Segundo dados dos pesquisadores do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), houve um incremento de 25 e 30% de chuvas muito fortes e temporais na RMC, nos últimos 30 anos. André Nahur, biólogo e analista do programa de Mudanças Climáticas do instituto WWF-Brasil expõe que estudos feitos sobre a percepção da comunidade urbana e rural revelam que 50% da população da região já sentem os efeitos das alterações climáticas e 30% acredita que isso influenciou nas épocas de plantio. Por outro lado, os 30% dos entrevistados afirmam que a frequência dos eventos extremos do clima tem aumentado.
A temperatura média no Brasil se elevará de 3º a 6ºC até o ano 2100.
 Nesta sexta-feira PBMC debaterá propostas de adaptação a os problemas ambientais 
Foto: Creative Commons

 O relatório do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) indica que Brasil ficará 3ºC mais quente até o fim do século com aumento de 30% de chuvas no Sul- Sudeste e diminuição delas em 40% no Norte-Nordeste. A temperatura média nas regiões do país elevará de 3º a 6ºC até o ano 2100 dependendo da emissão de gases no país. “Todas estas alterações geram consequências para saúde da população e para a segurança alimentar, mudanças podem gerar problemas na produção de alimentos”, expressa Nahur. Os resultados apontam que brasileiros terão que lidar com mais períodos de seca prolongada como de chuva forte, e com eventos extremos, como o Furacão Catarina.

 De acordo com esses dados, o professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro do IPCC, Paulo Artaxo acredita que a situação ambiental e climática do Brasil é de risco o qual se reflete em impactos na agricultura, cidades, áreas costeiras e
funcionamento dos ecossistemas. “Não se trata de destruir o planeta, mas o homem está alterando a composição da atmosfera e o clima e isso terá impactos futuros”, acrescenta.

 As principais consequências destas mudanças são desastres naturais e problemas na saúde da população, assim como perdas na agricultura. Secas e altas temperaturas afetarão a produção a nível nacional. Segundo Hilton Silveira Pinto, doutor em agrometeorologia, a migração de certos tipos de cultivos já está acontecendo. Em expetativa para os próximos 10 ou 20 anos, os plantios de café se deslocarão para a zona montanhosa de Minas Gerais e para as regiões mais frias do sul do Brasil. A produção de soja será afetada pelos veranicos no sul do país apresentando perdas até de 20%. Grãos também se incluem neste processo.

Em relação às perdas agrícolas, estudos realizados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) demonstram que desde o ano 2000 já é possível observar uma queda na produção em algumas regiões, especialmente em cultivos de café, soja e milho, chegando á R$ 5 bilhões por ano. Se as alterações do clima continuarem as perdas na produção de alimentos serão R$ 7,4 bilhões em 2020 e R$ 14 bilhões em 2070.

Frente à situação, Artaxo menciona que medidas para diminuir o impacto das mudanças climáticas ao nível local e global a curto prazo, por parte do setor governamental, são necessárias. Porém a necessidade de adaptação ao novo clima é uma realidade inevitável e requererá um esforço associado de políticas públicas coerentes.

 No entanto, Hilton Silveira acredita que a mitigação dos efeitos do aquecimento é complexa. E que o desenvolvimento de novos cultivos que se adaptem a seca e sejam tolerantes ao calor é a solução mais viável perante os problemas do futuro.

Em parceria com o Embrapa, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT) trabalha na criação de novas espécies genéticas para o cultivo que tolerem as mudanças do clima e o aumento da semiaridez no Nordeste brasileiro. Novas variedades de soja e feijão estão sendo produzidas.

No que se refere às outras consequências como a vulnerabilidade do Brasil e as mudanças do clima ou o deslocamento da população, códigos de construção, soluções energéticas, entre outros estão sendo analisadas pelo Plano Nacional de Adaptação monitorado pelo MCT. Os resultados dessas análises devem surgir a partir do ano que vem.

 Impacto gerado pelo homem 

Um dos agentes nas alterações do clima ao longo do tempo é a atitude irresponsável da população com o meio ambiente. Hilton Silveira declara que pelo menos a metade das mudanças que estão acontecendo são originadas por causas humanas. A produção de CO2 e a queima de florestas provocam o efeito estufa (retenção do calor na atmosfera). No Brasil o maior problema ambiental é o desmatamento.

 O relatório do Painel de Mudanças Climáticas centrou sua atenção nas emissões de aerossóis as quais provocam fortes efeitos no balanço de radiação atmosférica. No sumário apresentado pelo Painel, em setembro, a emissão de poluentes por parte de veículos é um dos grandes problemas nas cidades: ‘’Há uma importante contribuição de emissões de material particulado em regiões urbanas, fruto principalmente de emissões veiculares. Ainda que não sejam majoritárias, estas exercem papel importante no clima urbano e na saúde pública das metrópoles brasileiras.”

 A Região Metropolitana da São Paulo foi catalogada por ter altas concentrações de material particulado acima do padrão de qualidade do ar e do recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Na cidade existem aproximadamente sete milhões de automóveis para transporte individual. A Região de Campinas também apresenta excesso veicular. José Marengo, chefe do Centro de Ciência do Sistema Terrestre e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) afirma que é importante pensar mais na utilização de transporte público massivo (trem, ônibus, metrô) como alternativa de solução. Enfatizou também que a região de Campinas é superpopulosa o que a faz mais vulnerável. Para ele cidades grandes apresentam problemas ambientais maiores.

 Paulo Artaxo enfatiza que o desperdício de energia que caracteriza a sociedade hoje deve mudar. Os novos padrões de consumo demandam cada vez mais energia e geram mais lixo em áreas de produção e com o tempo não terão lugar para ser destinados.

 A Comunidade Científica Internacional considera 400 ppm (parte por milhão) de CO2 na atmosfera como níveis para garantir a manutenção dos padrões climáticos responsáveis pelo bem estar de todas as espécies que vivem na terra, inclusive os seres humanos. Porém o relatório do PBMC expressa que se continuarmos com as altas taxas de emissões de gases de efeito estufa chegaremos a 450 ppm em três décadas, e a temperatura deverá se elevar quase 1°C nesse período.

 A temperatura do planeta se incrementará até 4,8 graus Celsius neste século, e o nível do mar em até 82 centímetros. Causando danos em diferentes regiões do mundo, inclusive no Brasil, onde o nível dos mares já aumentou 20 centímetros de 1900 a 2012 provocando alterações importantes de grande impacto.

O WWF Brasil acredita que é importante a criação de estratégias por parte do governo que reduzam as emissões de CO2 da população “As autoridades reduziram as taxas sobre automóveis para promover o consumo, alteraram o código florestal facilitando o desmatamento das florestas e isso trouxe consequências negativas ao planeta”, desabafa Andre Nahur. Já Hilton Silveira acredita que a conscientização da população é uma tarefa difícil e por isso as ações se centram na resolução dos problemas. Para Silveira a difusão de ações preventivas deve ser uma tarefa generalizada com demonstrações em televisão e planos das prefeituras, o que já está ocorrendo.

Os Ministérios do Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia estão dedicando 100% de atenção as situações climáticas para evitar transtornos futuros. No momento está em elaboração um plano para que a população brasileira consiga se adaptar às mudanças climáticas dos próximos anos.

 As alterações dos cenários climáticos no Brasil apontam para um aumento da temperatura de 1 a 1,5 graus na Amazônia; 1,5 a 2,5 na Caatinga; 1° no Cerrado e Pantanal; 0,5 a 1 grau na Mata Atlântica e 1°C no Pampa, de acordo com previsão até o ano de 2040. Por : Katherine Changanaquí Legenda: A temperatura média no Brasil se elevará de 3º a 6ºC até o ano 2100. Nesta sexta-feira PBMC debaterá propostas de adaptação a os problemas ambientais

Katherine Changanaquí.
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Sobre a ABJ

A ABJ é a agência júnior de jornalismo do curso de Comunicação Social do Unasp - Centro Universitário Adventista de São Paulo.

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