A estudante do 5º ano de Engenharia Civil, Tânia Dalbó, mostra o símbolo que se refere a Jesus na Língua Brasileira de Sinais. Foto: Léo Neves |
Mais de 150 anos se passaram desde que os surdos conquistaram o direito ao voto, e através de muitas lutas foram criadas escolas especializadas para melhor atendê-los. Um passo significativo para difundir o acesso à educação, porém não foi suficiente para eliminar o preconceito. O desafio não está apenas no fato de terem que buscar acesso ao conhecimento, mas também na busca por confiança e respeito como profissionais. Mesmo com a existência da Lei nº 8213/1991, que garante a existência de cotas para deficientes auditivos, eles ainda enfrentam grandes dificuldades para entrar no mercado de trabalho.
É o caso da bióloga Lilian Abendroth, 34 anos, que perdeu a audição por causa de uma bactéria que adquiriu na infância. “Me formei em 2008, e por não conseguir trabalhar na área, prossegui os estudos e me graduei como professora de libras em 2009, mesmo assim ainda não atuo na minha área”, gesticula a professora. Lilian explica que o motivo não seria seu nível de formação intelectual, mas apenas a deficiência.
Por ser surda, Lilian não consegue atuar em sua área de especialização mesmo sendo graduada. Foto: Henrique Félix |
Ligação esta que a estudante Tânia Dalbó tentou conquistar ao aprender a capacidade de ler lábios, oralizar. Para a família de Tânia, esta seria a melhor forma da estudante se desenvolver academicamente de maneira independente. Hoje, aos 24 anos, ela cursa o último ano de engenharia civil, mas admite temer não conseguir emprego em sua área de formação. “Mesmo que os surdos tenham maior percepção, por ter o sentido da visão aguçado, o mercado profissional ainda pode nos enxergar como incapazes”, desabafa a estudante.
Segundo a professora e intérprete de Libras, Sueli Gomes, a discriminação contra o deficiente auditivo ocorre mesmo através das pessoas mais próximas “o preconceito pode começar em casa, pois existem pais que sentem vergonha de seus filhos surdos”, menciona. Mesmo em meio à discriminação os surdos superam seus limites e expectativas, é o caso de João Batista Gama que superou as limitações e hoje cursa Educação Artística com habilitação em música. Tânia Dalbó também aprecia a arte de tocar um instrumento, e por isso, escolheu a flauta transversal. Segundo ela, as pessoas diziam que aprender um instrumento sem ouvir seria impossível, mas foi persistente. Ela define os sons por frios e quentes, “cada nota tem uma vibração e uma temperatura na flauta”, explica.
Na flauta transversal, Tânia é capaz de identificar as diferentes notas através de temperatura e vibrações. Foto: Henrique Félix |
0 comentários