Apesar de conquistas, surdos ainda lidam com preconceito

por Jéssica Veloso e Carolina Felix

A estudante do 5º ano de Engenharia Civil, Tânia Dalbó, mostra
o símbolo que se refere a Jesus na Língua Brasileira de Sinais.
Foto: Léo Neves
Na última semana foi celebrado o dia nacional e o dia mundial dos portadores de necessidades especiais auditivas. Em alguns estados do Brasil a data foi comemorada através de palestras, passeatas e seminários na tentativa de melhor expor o dia do deficiente auditivo. A escolha do dia é uma homenagem ao francês Eduard Huet que mesmo sofrendo de deficiência auditiva era professor. Em 26 de setembro de 1857 Eduard Huet fundou o instituto Nacional de Surdos Mudos no Rio de Janeiro, hoje conhecido como Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).

Mais de 150 anos se passaram desde que os surdos conquistaram o direito ao voto, e através de muitas lutas foram criadas escolas especializadas para melhor atendê-los. Um passo significativo para difundir o acesso à educação, porém não foi suficiente para eliminar o preconceito. O desafio não está apenas no fato de terem que buscar acesso ao conhecimento, mas também na busca por confiança e respeito como profissionais. Mesmo com a existência da Lei nº 8213/1991, que garante a existência de cotas para deficientes auditivos, eles ainda enfrentam grandes dificuldades para entrar no mercado de trabalho.

É o caso da bióloga Lilian Abendroth, 34 anos, que perdeu a audição por causa de uma bactéria que adquiriu na infância. “Me formei em 2008, e por não conseguir trabalhar na área, prossegui os estudos e me graduei como professora de libras em 2009, mesmo assim ainda não atuo na minha área”, gesticula a professora. Lilian explica que o motivo não seria seu nível de formação intelectual, mas apenas a deficiência.
Por ser surda, Lilian não consegue atuar em sua
área de especialização mesmo sendo graduada.
Foto: Henrique Félix
Na opinião de Lilian as escolas deveriam contratar surdos para dar aulas para alunos com deficiência auditiva também. “Um aluno surdo que tem aulas com um professor ouvinte não consegue aprender com facilidade porque falta uma ligação entre eles”, conclui.

Ligação esta que a estudante Tânia Dalbó tentou conquistar ao aprender a capacidade de ler lábios, oralizar. Para a família de Tânia, esta seria a melhor forma da estudante se desenvolver academicamente de maneira independente. Hoje, aos 24 anos, ela cursa o último ano de engenharia civil, mas admite temer não conseguir emprego em sua área de formação. “Mesmo que os surdos tenham maior percepção, por ter o sentido da visão aguçado, o mercado profissional ainda pode nos enxergar como incapazes”, desabafa a estudante.

Segundo a professora e intérprete de Libras, Sueli Gomes, a discriminação contra o deficiente auditivo ocorre mesmo através das pessoas mais próximas “o preconceito pode começar em casa, pois existem pais que sentem vergonha de seus filhos surdos”, menciona. Mesmo em meio à discriminação os surdos superam seus limites e expectativas, é o caso de João Batista Gama que superou as limitações e hoje cursa Educação Artística com habilitação em música. Tânia Dalbó também aprecia a arte de tocar um instrumento, e por isso, escolheu a flauta transversal. Segundo ela, as pessoas diziam que aprender um instrumento sem ouvir seria impossível, mas foi persistente. Ela define os sons por frios e quentes, “cada nota tem uma vibração e uma temperatura na flauta”, explica.

Na flauta transversal, Tânia é capaz de identificar
as diferentes notas através de temperatura e vibrações.
Foto: Henrique Félix
Apesar da existência de duas importantes datas para o deficiente auditivo, e o fato de possuírem seus direitos garantidos por lei, ainda são necessárias inúmeras adaptações para que sociedade supra as necessidades dos surdos. Os que podem ouvir precisam ajudar com paciência ao explicarem certas palavras. Houve um período em que Lilian precisava de um intérprete, e quando conseguiu uma a pessoa essa não tinha paciência para ensiná-la. “Eu amo os ouvintes, mas eles têm preconceito”, finaliza.
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Sobre a ABJ

A ABJ é a agência júnior de jornalismo do curso de Comunicação Social do Unasp - Centro Universitário Adventista de São Paulo.

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