Conversa franca contribui para educação sexual dos filhos




Responsabilidade é dos pais. Foto: Léo Neves
  A famosa conversa de pais e filhos sobre sexualidade se tornou um tabu. A maioria das famílias brasileiras possui dificuldade ao falar sobre sexualidade. Por esse motivo, a falta de informação pode tirar a naturalidade do assunto ocasionando  problemas. Um simples diálogo sobre o tema, com os filhos, poderia evitar futuras preocupações.

Especialistas alertam sobre o cuidado que os pais devem ter no momento em que surgem as dúvidas. Muitas crianças passam a ter curiosidade diante daquilo que observam. As diferenças entre meninos e meninas somados as informações disponíveis através dos meios de comunicação despertam o interesse pelo assunto. As perguntas aumentam com o passar do tempo e os pais devem estar preparados.

O acesso a internet, as dificuldades em atender as normas de classificação indicativa, entre outros fatores, fazem com que conteúdos ligados a sexualidade estejam ao alcance dos pequenos. O que os expõe a situações das quais ainda não estão aptos para enfrentar. Os adolescentes falam como adultos e querem se portar como tal. Contudo, falta-lhes experiência, responsabilidade e o significado real de um envolvimento sexual.

A estudante Lili Stoll, 20 anos, diz que quando mais nova seus pais nunca falaram sobre sexo com ela. “Eles só aconselhavam a ter juízo, o que todo pai e mãe falam. Mas não diziam como era e muito menos como tinha que ser”, revela. “Eu nunca namorei em casa! Acho que por isso eles nunca se preocuparam, até o momento em que viram minhas amigas engravidarem. Depois disso, começaram a me orientar”, lembra.

Segundo a professora Iracema Teixeira, doutora em psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestre em sexologia clínica pela Universidade Gama Filho (UGF), os pais que não esclarecem as dúvidas dos filhos sobre sexualidade podem passar uma imagem de abandono do apoio familiar. Isso leva a um relacionamento distante com laços afetivos frágeis. Por isso, alguns buscam respostas com os colegas. “A conversa com amigos tende a ser sobre os “achismos”, sobre as lorotas, histórias mirabolantes de autopromoção, carregadas de preconceitos e distorções”, explica.

De acordo com a professora, é necessário que a escola tenha cuidado com os educadores pouco habilidosos e despreparados para falar sobre o assunto. Os pais que desejam que os filhos tenham uma educação sexual responsável e respeitosa podem solicitar à escola que preparem os professores para oferecer atividades pedagógicas seguindo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).

Iracema revela que o momento ideal para conversar com os filhos sobre sexo é quando o adolescente começa a ficar sem respostas para suas perguntas. “Eles não podem ser enganados com histórias fantasiosas”, aponta. Além disso, o tema deve ser passado de forma igualitária para meninos e meninas. “Uma conversa franca e amorosa favorece a criação de um ambiente acolhedor, em que sexo, sexualidade, sensualidade são considerados temas naturais da vida”, orienta.

A estudante Vanessa Costa, 20 anos, conta que sua mãe seguiu esses ensinamentos e as duas tiveram uma conversa tranquila e aberta sobre o assunto. No entanto, diferente dos casos em que os pais procuram os filhos, foi Vanessa quem procurou a mãe com o objetivo de saciar suas dúvidas quando tinha apenas 10 anos. “Ela não só explicou o que era, mas o porquê”, conta. “Minha mãe me orientou que a relação sexual é reservada para o casamento. Fora dele, poderia trazer problemas na vida e nos relacionamentos”.

A professora Iracema aconselha ser fundamental que os pais estejam receptivos às curiosidades de seus filhos. Aproveitando essas situações para aprofundarem a relação de confiança e intimidade. “É preferível perguntar aos pais ao invés de coleguinhas que não possuem informações corretas”, garante. Por outro lado, caso os pais não consigam responder corretamente a pergunta do filho, Iracema sugere que peçam um tempo para explicar melhor depois. “É necessário que os pais retomem a conversa, e nunca engane ou enrole seu filho”, aconselha.

Riscos

Para Erilyn Goulart Medeiros, 19 anos, o fato de sua mãe sempre discutir e a orientar sobre o tema contribuiu para seu desenvolvimento. “Sinto que isso fez a diferença. Eu tinha uns 15 ou 16 anos quando minha mãe conversou comigo sobre sexo. E acho que todas as mães deveriam tratar desse tema com os filhos”, afirma. Erilyn considera ainda que a falta de informação possa ser causadora de problemas indesejáveis como a gravidez precoce.

Segundo pesquisas apresentadas no Congresso da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), em outubro de 2009, os adolescentes iniciam, em média, sua vida sexual aos 14 ou 15 anos. Contudo, as meninas prorrogam o início da atividade devido à preocupação em achar um parceiro adequado, enquanto os rapazes buscam os encontros sexuais com mais ansiedade. Porém, a precoce iniciação da vida sexual pode acarretar problemas como doenças sexualmente transmissíveis ou gravidez indesejada.

A gravidez de risco na adolescência é um dos resultados mais preocupantes na atualidade. Pois moças e rapazes, na adolescência, ainda não possuem estrutura suficiente para educarem uma criança. O que dificulta ou impede a formação de uma família convencional. Situações assim poderiam ser evitadas caso houvesse maior cuidado e orientação por parte dos pais.

Dados do Sogesp também mostraram que apenas 12,9% das meninas são levadas pelas mães, avós e tias, para a primeira consulta ginecológica antes de iniciarem sua vida sexual. Por volta de 47,8% das adolescentes já tiveram uma ou mais gestações quando realizam o exame pela primeira vez. O Brasil possui cerca 35 milhões de adolescentes e 28% dos recém-nascidos são filhos deles. Por volta de 60% das adolescentes grávidas afirmaram nunca terem utilizado algum método contraceptivo ou ter deixado de usar após um tempo. Não acreditavam que isso poderia acontecer com elas.

Doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), também poderiam se evitadas, em muitos casos, se o conhecimento partisse da família ao invés de terceiros. Em agosto de 2009 o Ministério da Saúde divulgou uma pesquisa mostrando que 10,3 milhões de brasileiros já tiveram algum sintoma de doença sexualmente transmissível, como sífilis, HPV, gonorréia e herpes genital. São, no total, 6,6 milhões de homens e 3,7 milhões de mulheres. Segundo o órgão, 18% dos homens e 11,4% das mulheres não procuram algum tipo de tratamento.

Desta forma muitos adolescentes permanecem em condição de vulnerabilidade, pois a falta de participação familiar os impedem de fazer escolhas responsáveis prejudicando o esclarecimento do assunto. “Quanto maior o conhecimento, maior é a responsabilidade antes de tomar qualquer atitude”, enfatiza Iracema.

A especialista sugere ainda que essas questões podem ser trabalhadas com naturalidade pelos pais, pois conversar sobre sexo é tratar de algo que faz parte da natureza humana. “Falar sobre sexualidade envolve falar de amor, saúde, autocuidado, respeito pelo outro e pela diferença, projeto de futuro, satisfação na vida, escolhas responsáveis, enfim, ajudar a formar uma vida relacional saudável e gratificante”, aconselha.
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Sobre a ABJ

A ABJ é a agência júnior de jornalismo do curso de Comunicação Social do Unasp - Centro Universitário Adventista de São Paulo.

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