Ecobags trazem dúvidas quanto ao benefício ambiental

por Jéssica Guidolin e Pâmela Meireles

Não há consenso para eficácia no uso  de ecobags
 Foto: Deborah Calixto
A conscientização pelo “mundo verde” vem aumentando nos últimos tempos. Soluções são procuradas constantemente para amenizar os problemas ambientais do planeta. Entre muitas, estão as sacolinhas plásticas que aos poucos vão sumindo do dia-a-dia da população para darem lugar às sacolas reutilizáveis, conhecidas como ecobags. Porém, um relatório da Agência Britânica do Meio Ambiente afirmou que o material contido nas sacolas plásticas, o PEAD (polietileno de alta densidade), causa menos danos do que as sacolas reutilizáveis. “O principal benefício é que a reciclagem do polietileno permite que não haja acúmulo de lixo plástico não biodegradável no meio ambiente, em função de os plásticos demorarem centenas de anos para se decompor”, explica Marcio Pereira, diretor da EcoCasa.


Existem outras maneiras para substituir as sacolas convencionais. Dentre as citadas, em muitos casos, estão os sacos de papéis ou até mesmo as sacolas a base de amido. Porém, a industrialização dessas outras opções poderia trazer mais gastos para o país. O publicitário Bruno Rezende, autor do blog Coluna Zero especializado em ambientalismo e sustentabilidade, questiona os benefícios dessas alternativas. “Com a produção dessas sacolas no Brasil quantas áreas teriam que ser devastadas para plantação de algodão e milho? E os gastos de produção? 69% da água consumida no Brasil é destinada a irrigação agrícola, quanto mais gastaríamos de água?”, indaga.


O benefício em utilizar os sacos de algodão é a sua durabilidade. Pois, para compensar a substituição, elas devem ser usadas por mais de um ano. Isso, consequentemente, diminui a quantidade de poluição. No entanto, muitas pessoas não utilizam com a frequência necessária. Além disso, deve haver atenção para com a higienização do produto.


O deputado federal, pelo estado do Piauí, Jesus Rodrigues é fabricante de sacolas plásticas e defende que existem precauções para que o uso de sacolas retornáveis seja adequado. Ele alerta para que haja cuidado com a higienização das ecobags sempre que se for às compras. “A picanha ou o frango, que vêm embalados de dentro do supermercado, podem vazar um pouco de sangue e misturar com um pouco de esterco do alface, e você cria uma colônia de bactérias que serão visitadas por alguns insetos caseiros, tipo moscas e baratas que passeiam por nossas despensas. Podendo assim, infectar as próximas compras”, exemplifica.


A preocupação com o meio ambiente é frequente. Por esse motivo, o que não faltam são projetos para tentar amenizar, de alguma forma, o problema. Um exemplo vem da cidade de Curitiba onde algumas propostas estão sendo analisadas. Como o projeto de lei criado pelo ex assessor jurídico da Câmara Municipal de Curitiba, Gehad Hajar. A proposta, que está tramitando na câmara da cidade e tem previsão de ser aprovada no ano que vem, consiste em produzir sacolas com apenas uma cor, sem estampas ou propagandas. Ele chegou a essa solução depois de muitas pesquisas químicas realizadas. Por onde constatou que as variadas cores utilizadas na industrialização de sacolas plásticas dificultam o processo de reciclagem.


Variedade de elementos transportados prejudicam higiene
Foto: Deborah Calixto
Além de contribuir com o meio ambiente a iniciativa teve aceitação por grande parte dos consumidores que preferem as sacolas neutras na hora da reutilização. “Este projeto de lei prevê em pequenos caracteres, que deve ser grafado nas sacolas plásticas os seguintes dizeres: Reutilizar as sacolas plásticas é uma das formas que você tem de contribuir para salvar o planeta”, explica Hajar.


Outra ideia pretende ainda, através do Projeto de Lei 612/2007, obrigar os estabelecimentos comerciais a disponibilizarem sacolas oxi-biodegradáveis para seus clientes. Caso haja o descumprimento da regra, se aprovada, o estabelecimento será penalizado. No entanto, apesar da intenção de beneficiar o meio-ambiente, este projeto de lei apresenta alguns detalhes que precisam de maior cuidado. Pois o material utilizado nas sacolas oxi-biodegradáveis contém aditivos que aceleram o processo de degeneração, mas ao mesmo tempo liberam gases de efeito estufa. Além disso, podem soltar pigmentos de tinta que se misturam no solo. O risco, nesse caso, é provocar uma poluição quase que imperceptível, porém não menos perigosa.


Interesses econômicos


A utilidade dada às sacolas plásticas, além do transporte dos produtos, pode estar com seus dias contados. Há quem sugira a opção de cobrar pela distribuição das sacolinhas, que passariam a ser mais um produto vendido no supermercado. “Com a proibição da gratuidade da sacolinha, os clientes são obrigados a comprar saco plástico de lixo, ou pagar pela sacolinha mais cara que o saco de lixo. Em muitos casos, entretanto é mais um item que os supermercados vendem ao invés de doá-las”, ressalta Rodrigues. Neste caso o risco seria por o interesse financeiro acima do ambiental.


Há ênfase maior para os danos causados pelo uso das sacolas plásticas. No entanto, não é esse o único fator causador da poluição por plástico. O deputado argumenta que outros tipos de embalagens e sacos para lixo não são citados na mesma proporção. “Das outras embalagens plásticas flexíveis nenhuma campanha, a não ser aquelas feitas por ONGs internacionais denunciando o lixo plástico no mundo inteiro”, lembra Rodrigues.


Os materiais usados na fabricação das sacolas plásticas também são utilizados em outros produtos como bolsas de soro medicinal, filmes para fraldas descartáveis, embalagens de detergentes além de vários outros utensílios domésticos. “Então é melhor proibir que esses produtos também sejam fabricados com os mesmos materiais da sacola plástica ou investir em reciclagem e sacolas plásticas mais resistentes para serem usadas várias vezes?”, questiona Rezende.


O objetivo e a preocupação do governo em eliminar as sacolas plásticas para dar lugar às ecobags ainda não alcançou a aceitação da maioria. “A sustentabilidade foi a única coisa que não foi considerada neste acordo e, infelizmente, se levado adiante, será o consumidor e o meio ambiente que sairão prejudicados”, lamenta Miguel Bahiense presidente do Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos (Plastivida).


O Brasil possui tecnologia de reciclagem e incineração energética, mas ainda não conseguiu espaço adequado na caminhada para proteger o planeta. “Tecnologia para incineração energética o Brasil já possui. Tecnologia de reciclagem também. Não usamos porque até agora foi mais ‘econômico’ jogar o lixo a céu aberto”, afirma Rodrigues. Já Bahiense destaca que deve haver maior investimento. “Seja para investir e desenvolver as tecnologias nacionais ou para comprar as tecnologias que existem mundo a fora”, complementa.


Cada caso é um caso


O Instituto Espaço Eco realizou um estudo no Brasil semelhante ao desenvolvido pela Agência Britânica do Meio Ambiente, e constatou que tudo depende da forma como este recurso é utilizado. Seja através da frequência com que se vai ao supermercado, a quantidade de itens comprados e a utilidade dada às sacolas pós-compras. “É assim que o brasileiro médio se comporta. Pouco dinheiro significa poucas idas aos supermercados no mês e o volume de compra também não será grande. Se você se comporta assim, prefira as sacolas comuns”, aconselha Bahiense.


As alternativas disponíveis ainda não apresentam totalidade de segurança e o consumidor deve estar atento e procurar, na sua rotina, agir o máximo possível com sustentabilidade “Não há um tipo de sacola que definitivamente ou incondicionalmente apresente o melhor desempenho ambiental e, portanto, as opções devem existir, sem que haja eliminação de um ou outro tipo, para que o consumidor utilize aquela que melhor se adéqua à sua realidade e necessidade, gerando o menor impacto ambiental”, orienta Bahiense.
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Sobre a ABJ

A ABJ é a agência júnior de jornalismo do curso de Comunicação Social do Unasp - Centro Universitário Adventista de São Paulo.

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