Panorama mostra que desafios são grandes para a conferência Rio+20. Foto: Divulgação |
Um recente relatório divulgado pelo Pnuma, uma entidade filiada à ONU, mostrou que, no geral, a situação só piorou desde 1992. O estudo faz parte do mais importante documento que será divulgado na Rio+20, intitulado GEO-5, sigla em inglês para Global Environmental Outlook-5. Através de gráficos, dados e imagens de satélite, o documento oferece a maior pesquisa já realizada sobre a situação ambiental no planeta.
Segundo o levantamento, apesar de todos os esforços dos líderes internacionais, desde a década de 90, 300 milhões de hectares de florestas foram perdidos. O índice de desmatamento, somente em 2010, foi de 13 milhões de hectares. Para a bióloga Nurit Bensusan, o desmatamento, especialmente no Brasil, tem sido grande devido a falhas na política ambiental. “O desmatamento depende de vários fatores que vão desde o preço das commodities até as políticas de desenvolvimento dos países. No Brasil não há uma preocupação real com a conservação das florestas, que são vistas mais como um empecilho ao desenvolvimento do que como um recurso alternativo e racional”, argumenta Nurit. “Falta um compromisso real dos países com a conservação das florestas.”
Um dos temas mais debatidos durante a primeira conferência, em 1992, foi a preservação da biodiversidade. Porém, com base nos dados do estudo, nos últimos 20 anos, mais de 12% da biodiversidade foi perdida a nível global. Somente nos trópicos, onde se encontra a Floresta Amazônica, por exemplo, a porcentagem é de 30%. “Houve uma falha das nações em produzir instrumentos novos e eficientes para a conservação da biodiversidade. O que parecia correto se tornou falso na prática, e o alcance das ações acabou por se tornar limitado”, pontua Nurit.
Para o diretor da SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, as mudanças climáticas também tiveram um grande impacto nos números negativos. Somente no ano de 2008, foram mais de 30 bilhões de toneladas de combustíveis fósseis, responsáveis pelo efeito estufa, emitidos no mundo. 80% destes por apenas 19 países. Desde 1992, o nível dos oceanos subiu 2,5 milímetros por ano. “O mundo já vem sofrendo um processo de transformação climática há algum tempo. A grande verdade é que mesmo com as sucessivas conferências realizadas, a humanidade ainda não sabe o que fazer para brecar ou diminuir a velocidade desse processo”, afirma Mantovani.
Sustentabilidade em pauta
Apesar dos dados do relatório, uma palavra vem sendo tratada desde a conferência de 92 como a grande esperança para a situação ambiental do planeta: sustentabilidade, tema que ganha cada vez mais força no cenário mundial. Segundo o estudo do Pnuma, as energias renováveis cresceram de forma exponencial desde 1992, apresentando, somente no ano de 2010, mais de 16% da geração de energia global.
O consultor ambiental Fábio Feldmann é um dos que acreditam na sustentabilidade como rumo do planeta nos dias de hoje. Para ele, a união entre a rentabilidade e os projetos sustentáveis atrai cada vez mais empresas e governos para a causa ambiental. “Com o passar do tempo, os líderes das nações e das grandes multinacionais compreenderam a emergência da situação ambiental no planeta e conseguiram encontrar na sustentabilidade uma forma, além de lucrativa, segura de proteção à Terra”, coloca Feldmann.
Um dos principais caminhos para soluções ambientais é a reciclagem. Os investimentos no setor chegaram, em 2010, à marca de US$ 2,11 bilhões, segundo a ONU, número cinco vezes maior do que o de oito anos atrás. Apesar dos números, o Brasil ainda apresenta falhas. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o país perde cerca de R$ 8 bilhões por ano somente pelo fato de deixar de reciclar os resíduos que poderiam ser reutilizados. “O governo tem de parar de entender reciclagem como gasto e realizar melhorias no processo de reciclagem através de campanhas de conscientização”, desabafa o diretor da Estação Resgate, Gilberto Meirelles (leia a entrevista do ambientalista na íntegra).
Empresas “verdes” como exemplo
Um levantamento divulgado pela BMF&Bovespa, em parceria com a Global Reporting Iniciative, mostrou que o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) teve uma valorização, nos últimos doze meses, de 5,15%. Esse índice engloba as ações das 200 empresas mais sustentáveis do Brasil, conhecidas como “empresas verdes”. Como comparação, o Ibovespa, principal indicador da bolsa, teve, no mesmo período, uma queda de 5,94%.
O fenômeno, para o professor de Economia e Administração da PUC-SP e consultor da ONU, Ladislau Dowbor, se atribui à valorização do tema na sociedade. “A população passou a valorizar as empresas com maior visão ambiental, as que possuem os melhores projetos sustentáveis”, interpreta Dowbor.
Os desafios da Rio+20
Entre os principais desafios e temas a serem debatidos na Rio+20, especialistas enumeram os projetos sustentáveis para as grandes megalópoles e o desenvolvimento de economias verdes como carros-chefes da conferência. “O centro do debate será a economia verde que não é verde e que não considera de fato o que está em jogo entre o meio ambiente e o desenvolvimento, fato que ocorre em muitos países do globo”, argumenta Nurit.
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