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Crianças têm preferido brinquedos virtuais aos da rua. |
Essa é
uma das preocupações de Mirene Rhinow, mãe de Marina. Ela monitora a pequena e acredita
que o uso dos aparelhos eletrônicos não é de extrema importância para o
desenvolvimento de uma criança, mas o utiliza por necessidade. Ela afirma que a
menina tem uma vida normal. Brinca com bonecas, desenha, faz comida de brincadeira
e usa a imaginação para contar histórias.
“As pessoas pensam que por ela brincar com o computador ela não faz mais nada.
Não é verdade. Ela faz tudo que uma criança deve fazer. Esse interesse surgiu
dela, nunca incentivamos. Ela ia perguntando e nós mostrando. As crianças são
muito curiosas”, esclarece Mirene.
A
psicopedagoga Valéria Ferreira alega que um dos motivos da enxurrada de
eletrônicos na vida das crianças é a falta de incentivo às brincadeiras
antigas, tanto das escolas quando dos pais. Ela afirma que a família perdeu
para a tecnologia o espaço que tinha na vida das crianças. “Para exemplificar,
basta prestarmos atenção em uma mesa de restaurante. Os pais saem com seus
filhos e muitas vezes eles [filhos] passam todo o tempo interessados apenas no
celular ou no tablet. Esse tempo era
para ser gasto com conversas e confraternizações”, lamenta Valéria. A
psicopedagoga alerta que essa obsessão não é apenas encontrada nas crianças.
Muitos pais não conseguem passar um minuto desconectados ou longe do aparelho
celular, o que acaba servindo de exemplo na vida dos filhos.
O
pequeno Vitor Uchoa, de quatro anos, apesar de não ser alfabetizado, passa o
dia inteiro na internet assistindo vídeos, navegando pelos sites e jogando. Sua
mãe, Diana Uchoa, disse que no início pensava que ele era muito inteligente e
por isso incentivava o filho, pois aprendia muito rápido a mexer nas coisas,
mas agora isso é um vício que ela não consegue controlar. O pequeno faz birra e
por isso a mãe prefere não contrariá-lo.
Diana
conta que no dia das crianças eles estavam na casa do avô de Vitor e que o
menino já havia anunciado que queria um vídeo-game. Diana comprou outro
presente e quando entregou para o garoto ele ficou bravo e disse que não
voltaria mais para casa enquanto não ganhasse o que tinha pedido. Vitor irritou
tanto a mãe que, mesmo morando em outra cidade, ela preferiu deixar o filho com
os avós por uma semana. Ela diz que o marido a culpa pela teimosia do filho,
mas ela não consegue controlá-lo. “Não adianta eu fazer nada, ele não obedece.
Por um lado eu até acho bom quando ele fica no computador, porque só assim ele
fica entretido no canto dele e eu consigo fazer os serviços de casa”, desabafa.
A mãe garante que já tentou brincar com o filho e contar histórias, mas ele não
se interessou e ficou impaciente.
Para o teólogo
Allan Novaes esse processo de envolvimento tecnológico é irreversível. Os produtos
que são lançados a cada dia alteram a parte cognitiva, fisiológica e psíquica
das crianças e muitas vezes isso é ignorado pelos pais que acreditam que a
tecnologia é neutra. Apesar disso, ele acha difícil a família conseguir fazer a
criança não se envolver com a modernidade. “Eu não acredito que algum pai
consiga abster o filho da tecnologia. Acho impossível isso no século 21, a não
ser em casos de extrema pobreza. O que alguns pais fazem é exercer mais
disciplina e controle em termos de quantidade e tempo de exposição. Se isso é
bom ou não, é relativo,” opina Novaes.
A Academia Americana
de Pediatria (AAP) constatou que o excesso de exposição à TV, internet e jogos
está ligado ao déficit de atenção e à obesidade infantil. Segundo a AAP, uma
das formas de minimizar esses riscos é controlar o tempo gasto de crianças com
menos de 12 anos em no máximo duas horas diárias.
Empresa
israelense investe em tecnologia para o público infantil
O que
até há pouco tempo era objeto indispensável apenas para adultos, virou moda
também para o público infantil. Um terço das crianças com menos de dez anos já
possuem celular. O uso do aparelho virou artigo de desejo e o presente mais
solicitado, ao lado do tablet, nas
datas comemorativas. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o
Brasil fechou o mês de agosto com mais de 268 milhões de linhas ativas.
A
empresa israelense Mobee desenvolveu um celular próprio para as crianças. O
aparelho, além de só poder arquivar quatro contatos (mãe, pai, casa e um
adicional), tem uma tecla de “pânico”, que ao ser clicada envia uma mensagem de
emergência para os contatos. Outro recurso é um dispositivo que permite aos
pais ligarem para o aparelho e conseguir ouvir o que está acontecendo em
qualquer momento. O celular custa cerca R$ 220,00 e só é vendido pelo site da
empresa.
Por Felipe
Rocha, Karine Dias, Késia Andrade
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