Trinta por cento da população de Campinas é analfabeta funcional

Estudo realizado pelo Instituto Paulo Montenegro e o Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) para o ano 2013 revela que 30% da população de Campinas é analfabeta funcional. Os resultados foram expostos em evento da Federação das Entidades Assistenciais de Campinas (Feac) pela comemoração da 4ª Semana de Educação do Município no dia 5 de novembro.

Evento da Feac. Foto: Katherine Changanaquí. 
O evento faz parte do projeto Compromisso Campinas pela Educação. A pesquisa foi realizada com o objetivo de avaliar os níveis de alfabetização na cidade e as estratégias pedagógicas utilizadas nos últimos anos. O estudo teve 406 entrevistas domiciliares nos períodos de 3 a 16 de junho e 2 a 10 de setembro. Foram identificados também os hábitos de leitura, escrita e cálculo da população entre 15 e 64 anos.

Rose Rosendo, gerente de atendimento e planejamento do Ibope Inteligência acredita que a situação em Campinas é muito similar a do cenário nacional. No entanto, por ser uma cidade grande e de bom nível econômico na região Sudeste, os resultados não foram os ideais. “Campinas é uma cidade do interior, mas é uma cidade rica. Esperava-se que o desempenho da população fosse melhor”, admite.

A porcentagem de analfabetismo funcional foi produto da soma do percentual de 3% da população considerada totalmente analfabeta e 27% da população com alfabetismo rudimentar, ou seja, pessoas que conseguem ler textos simples e realizar operações básicas. Nas definições do Instituto Paulo Montenegro uma pessoa que não está funcionalmente alfabetizada pode ou não realizar atividades do cotidiano, como fazer um cálculo ou receber um troco, mas nem sempre consegue interpretar textos e números. Eles criam uma dependência de outras pessoas para realizar atividades do dia a dia, o que complica mais a situação.

Entre os principais problemas que afetam o sistema educativo da cidade estão a infraestrutura das escolas e a falta de preparação adequada dos professores como alfabetizadores. Maria Helena Guimarães Castro, especialista em avaliação educacional, explica que instalações adequadas para o ensino é um fator que influencia no processo de aprendizagem. “Temos projetos de educação e escolas, mas nossos alunos não estão interessados em aprender”, afirma.

A especialista e socióloga também manifesta a sua preocupação com a qualidade das pesquisas para detectar o nível de alfabetização. Ela enfatiza que o mercado de trabalho está cada dia mais exigente e que os testes para identificar se somos capazes de ler ou não, refletem com pouca clareza se os estudantes estão prontos para enfrentar o mundo profissional. Para ela, novas pesquisas e melhorias na qualidade dos cursos ofertados são urgentes e necessárias para preparar os estudantes frente às mudanças na educação.

Maria Inês Fini, consultora da Fundação Feac para o Compromisso Campinas pela Educação, concorda com Maria Helena. Ela afirma em evento da Feac que é possível perceber uma geração talentosa de jovens que estão sendo educados da maneira errada para se desenvolver na sociedade. Em consequência, o processo de alfabetização sofre um estagnamento do ensino médio ao superior. “Estudantes são enviados as universidade sem ter um nível de alfabetização e interpretação de dados adequado. Essa é uma situação crítica e preocupante”, desabafa.

Evento da  Feac. Foco: Katherine Changanaquí.
No encontro também foi apresentada uma análise dos estudantes inscritos no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) deste ano. O professor Dalton Francisco de Andrade e o pesquisador Adriano Ferreti Borgatto foram os autores do estudo. Uma das conclusões apresentadas é a de que o desempenho dos estudantes em Campinas é superior aos níveis estaduais  da região Sudeste. Segundo Dalton, estes dados nem sempre refletem a realidade dos estudantes em termos de desenvolvimento laboral no futuro.

Nas opiniões de Andrade, Maria Inês e os outros participantes do projeto Campinas Compromisso pela Educação a criação de novos testes para o análise dos estudantes e o maior investimento em educação é urgente. “Acreditamos que a infraestrutura e qualidade de ensino precisam ser as melhores. E deixamos de perceber que aquilo que é considerado ‘melhor’ é o necessário”, declara Andrade.

Nas conclusões do estudo, considerou-se a necessidade de impulsionar o processo de alfabetização em busca da formação de uma população apta para conseguir um emprego e uma sociedade democrática. “Uma pessoa que precisa de outra para enxergar e entender o mundo não tem livre escolha e isso não é democracia”, acrescenta Maria Inês.

Além do município

No ano 2003 o mapa do analfabetismo funcional do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais realizado na Região Metropolitana de Campinas (RMC) indicava que Campinas era o município com o menor índice de analfabetismo funcional (14,5%). Já Santo Antonio de Posse tinha o maior índice (29,3%). Outras cidades com alto nível eram Artur Nogueira (23,3%), Engenheiro Coelho (27,9%) e Holambra (22,6%).

Sete anos depois as estatísticas do IBGE do ano 2010, segundo a Pesquisa Nacional de Domicílios (PNAD), mostravam as seguintes porcentagens em relação ao analfabetismo absoluto na RMC: Santo Antônio de Posse, 6,45%; Engenheiro Coelho, 7,12%; Holambra, 4,51%, e Artur Nogueira, 4,59%.
Frente a esta realidade diversos programas criados pelos governos foram postos em prática. Projetos como Todos pela Educação estabeleceram objetivos para erradicar o analfabetismo até o ano 2022. Os municípios de RMC como Engenheiro Coelho e Campinas atualmente fazem parte destes processos.

No entanto os dados atuais expressam uma realidade diferente. Rose Rosendo, do Ibopw, assume que é impossível comparar os dados do passado com os atuais por se falar de contextos educacionais diferentes. No Brasil o nível de analfabetismo funcional é de 27%. Já em Campinas é de 30%. Para os especialistas da educação, a cidade de Campinas reflete a realidade nacional e, portanto, medidas para sanar este desafio educacional no país serão refletidas no nível de analfabetismo funcional da cidade.


Por Katherine Changanaquí
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Sobre a ABJ

A ABJ é a agência júnior de jornalismo do curso de Comunicação Social do Unasp - Centro Universitário Adventista de São Paulo.

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