À direita da Avenida Consolação, na Amaral Gurgel,
estão 20 gigantes de seis metros que tomaram o elevado Costa e Silva em outubro. Descoloridos, enfileirados
e sérios. Se trata da exposição Giganto, da fotógrafa gaúcha Raquel
Brust, parte do Festival de Fotografia PhotoEspaña.br. A mostra conta com
retratos de moradores do local e pretende criar interação entre obra e público.
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Imagem da DJ Sandra Gabby na exposição Giganto. Foto: Isadora Stentzler. |
“Esse me é familiar”, comenta o comerciante Alan
Janes, 63, apontando para a primeira fotografia da exposição abaixo do elevado.
“Mas agora não lembro quem é. Se reparar mais a partir de hoje acho que o
reconheço.”
No bar, ninguém sabia o paradeiro. No salão de
beleza, também não. A mulher de saia que visitava o local no sábado
(26) tampouco. Para muitos dos moradores vizinhos do elevado Costa e
Silva, também conhecido como Minhocão, aqueles retratos são mitos da região. Um
fenômeno, porém, que não acontece com a mulher exposta na oitava pilastra.
“Se eu conheço ela? Conheço sim, é do teatro”,
conta a moça da banca de revistas. A idosa de batom, blusa social listrada e
séria é freguesa no “Buteco no Tigrão”. “Às vezes almoça, às vezes só toma
café”, revela o atendente. O nome dessa giganto é Gabby. Sandra Gabby. Mas para
os amigos do Minhocão, é a Gabby do teatro. Uma atriz e DJ de 88 anos que dá
aulas de interpretação ao lado do elevado.
“Sou a DJ mais velha do Brasil”, se
orgulha. O amigo Marcelo Mendes, 40, e proprietário do teatro Paiol,
acrescenta: “Enquanto estou no quarto sono, ela está batendo perna por aí.”
Gabby já tocou em bares da região do Bixiga, Frei Caneca e na Augusta, ficando cerca
de sete horas mixando sons no
aparelho de DJ. “Uma mulher muito animada. Bem diferente daquela séria que
aparece na fotografia”, pontua Mendes.
A escolha pela carreira há três anos veio de duas maneiras. Uma pela decepção com o teatro atual e a outra por influência da irmã Thelma Lima, 83. “Eu nunca toquei em público”, conta a irmã. “Mas ela toca.”
A escolha pela carreira há três anos veio de duas maneiras. Uma pela decepção com o teatro atual e a outra por influência da irmã Thelma Lima, 83. “Eu nunca toquei em público”, conta a irmã. “Mas ela toca.”
Assista ensaio da DJ Sandra Gabby
Logo que o Giganto foi exposto, Mendes percebeu o
retrato da DJ e identificou que havia cola em excesso na fotografia dando a
impressão de baba. “Então peguei um pano e limpei”, descreve. O cuidado com a imagem representa o carinho
que ele e outros vizinhos sentem pela atriz.
Segundo a idealizadora do projeto, Raquel Brust, o
processo de escolha dos fotografados foi um trabalho de campo. O encontro com
Gabby, no entanto, foi acidental. “Estávamos procurando janelas para filmar o elevado e encontramos ela por
indicação do zelador do prédio. Muito simpática, logo estávamos em sua casa
ouvindo música”, relata.
Assim como a curiosa senhora de 88 anos, atriz, DJ,
viúva e que nunca quis ter filhos, outras 19 histórias curiosas também
permanecem expostas no elevado. “A cidade é um local que ninguém encara o
outro, evitamos os olhares”, explica Raquel. Mas agora no Minhocão, “os olhares
são vigilantes, críticos, te enfrentam”, e apresentam “vidas singulares cheia
de mistérios.”
O projeto Giganto ocupa todas as colunas de sustentação
do Elevado Costa e Silva, no trecho da Avenida Amaral Gurgel, e algumas colunas
do trecho da Avenida São João. Outras imagens do PhotoEspaña.br podem ser
vistas de 23 de outubro a 25 de janeiro no Sesc Consolação.
Por Isadora Stentzler
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