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As mulheres conquistaram espaço e sucesso no mercado de trabalho. Foto: Gabriela Vizine |
Oficializado em 1975, o dia oito de março se tornou o ícone mundial da comemoração dos direitos femininos. Nesta quinta-feira (8), 37 anos depois, a data continua sendo lembrada pelas mulheres que agora comemoram não apenas com flores e bombons, mas olhando para as próprias realizações dentro do mercado de trabalho.
“Até pouco tempo atrás existiam profissões que eram direcionadas absolutamente aos homens. Hoje não mais”. É o que constata a professora Renata Algise Takeda, doutora em engenharia de transportes pela Universidade de São Paulo (USP). Renata diz ser uma mulher realizada e conta que sua ascensão foi uma questão de perseverança. “Quando eu entrei no mestrado de engenharia, a proporção de mulheres no curso era muito baixa. Numa sala de 40 alunos, por exemplo, 36 eram homens e só 04 eram mulheres”, revela.
A experiência da professora ilustra a nova geração das mulheres brasileiras que já possuem cursos superiores e desempenham funções estratégicas no mercado de trabalho. “A mulher tem conquistado cada vez mais o espaço dela, desde profissões bem simples até profissões mais sofisticadas”, comenta.
Durante a vida acadêmica da professora, ela que por ser mulher sofreu preconceito desde a decisão do curso, desabafa. “Eu escolhi o bacharelado em matemática que é um caminho extremamente doloroso para mulheres e mais escolhido pelos homens, pois normalmente preferimos a licenciatura”. Em seguida, iniciando o mestrado em engenharia, Renata explica que por conta da concorrência masculina o preconceito se tornou mais visível. “Sempre ouvia alguns comentários com falas maldosas do tipo: vem uma menina de outra escola e de outro curso e passa na minha frente. E isso também acontecia a outras meninas que vinham de engenharias. O problema mesmo era ser mulher.”
Para a professora Fernanda Cristina Covolan, mestre em direito pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), isso se trata de uma questão social, e que por ora, já foi tratada no artigo 5º da Constituição Federal de 1988. “O artigo trata dos direitos fundamentais, dos direitos humanos, e afirma que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”, lembra Fernanda.
No Brasil, entretanto, as leis de amparo trabalhista ao público feminino são escassas. “Há poucos dias deu-se a notícia de que finalmente sairá uma norma expressa impondo que os salários de homens e mulheres que desempenhem a mesma função sejam iguais. Veja que tal projeto de lei deriva do texto constitucional de 1988, mas só agora constará de norma”, acrescenta. “Isso mostra que ainda há muito que construir para a concretização da igualdade prevista na constituição.”
O Projeto de Lei comentado pela professora Fernanda foi aprovado pelo Senado na última terça-feira, 6, e visa multar as empresas que pagarem salários inferiores à mulheres exercendo as mesmas funções de homens. O mesmo, prevê multas calculadas a partir de cinco vezes a diferença de todo o período de contratação da funcionária.
Outra lei
Embora questões trabalhistas estejam minimizadas perante a norma, existem leis que regem para outros âmbitos de interesse feminino. É o caso da Lei Maria da Penha que cria medidas protetivas para mulher vítima de violência doméstica. Fernanda explica que a lei em questão trata da violência doméstica, mas especifica que há vários níveis de violência. “Por exemplo, as violências verbais e psicológicas, que sempre foram tratadas como não violência na cultura conservadora brasileira”.
Sobre o dia
O dia das mulheres é comemorado oficialmente desde 1975, quando um documento assinado pela Organização das Nações Unidas (ONU) quis homenagear as aproximadas 130 tecelãs que morreram carbonizadas em 1857 por reivindicarem direitos trabalhistas.
As operárias da indústria de tecelagem, que entraram em greve no dia 08 de março daquele ano, tomaram o prédio da indústria, solicitaram redução da carga horária de 16 para 10h/dia, equiparação de salário com o homem e respeito no ambiente de trabalho. A manifestação, que foi vista como vandalismo, encerrou quando atearam fogo no prédio da indústria, carbonizando todas as tecelãs.
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