“Meu medo era de estar com uma doença incurável”, diz vítima de síndrome do pânico

Com o crescimento da tecnologia e o avanço midiático, a vida ficou mais moderna. A ansiedade faz parte desse aceleramento de informações, mas quando ela começa a ficar excessiva, ocupando boa parte do tempo, durante dias, semanas e meses, surgem transtornos como a síndrome do pânico. Esse é o caso da bióloga Juline Homercher. Ela notou os primeiros sintomas na transição da adolescência para a fase adulta. Porém desde criança foi muito ansiosa, mas não imaginava que este fator poderia se tornar uma doença.


Após sete anos da primeira crise, Juline vive uma vida
 normal, gosta de estar com os amigos e pratica
exercícios físicos. Foto: Arquivo pessoal.
A bióloga lembra da primeira crise há sete anos atrás quando acordou na madrugada e começou a sentir os sintomas. “Estava desesperada, chamei meus pais, eu achava que estava tendo um ataque cardíaco. Eu sentia falta de ar, formigamento nas pernas, suor frio e tremores”, relembra Juline. Seus pais a levaram para o pronto socorro, e ela foi atendida por um médico que estava de plantão. O profissional o examinou e não constatou nenhum problema respiratório nem cardíaco. Então chamou os pais da jovem e explicou que acreditava que ela estava passando por uma crise de pânico e aconselhou a procurar um psiquiatra ou psicólogo.

No começo foi difícil para a jovem aceitar que aquilo que sentia eram problemas psicológicos. “Logo eu que adorava festas, gostava de estar rodeada de pessoas. Porém, as crises foram se agravando, a cada nova crise eu procurava um especialista diferente. Fui a cardiologistas, gastroenterologista, otorrinolaringologista, entre outros. Sempre acreditava portar uma doença incurável. Nessa fase os sintomas aumentaram. Dor no peito, tonturas, náuseas”, conta ela.

Depois de muitos exames, Juline aceitou procurar um psiquiatra e foi diagnosticada com síndrome do pânico. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a síndrome atinge de 2% a 4% da população mundial.  A doença é um transtorno psicológico caracterizado pela ocorrência de inesperadas crises de pânico e por uma expectativa ansiosa de ter novas crises. São períodos de intensa ansiedade, geralmente com início súbito e acompanhados por uma sensação de tragédia e perigo iminente.

A Psicóloga Elaine da Silva explica que, na maioria das vezes, as crises de pânico iniciam com uma primeira reação de ansiedade. O indivíduo provavelmente já visitou inúmeras vezes o médico ou pronto socorro achando que estaria tendo um ataque cardíaco, depois de vários episódios de queixas e sintomas. Habitualmente se procura um médico psiquiatra para dar um diagnóstico para isto, este médico fará uma consulta para detalhar toda história do quadro e também solicitar exames que servirão para descartar outros diagnósticos, como problemas cardíacos e ainda solicitará exames. Alguns são: Anamnese, que inclui uma entrevista inicial detalhada sobre a história das crises e do paciente. Exame físico, como uma avaliação do coração e da pressão arterial. Exames laboratoriais, como o de sangue (hemograma completo). Exames de imagens, como tomografia computadorizada. “Tantos exames são pedidos para descartar qualquer problema físico do indivíduo. Nem todo mundo com crise de pânico tem o diagnóstico de transtorno de pânico”, frisa a psicóloga.

Segundo Elaine, alguns critérios são essenciais para o diagnóstico. Os ataques de pânico são inesperados e frequentes e existe a preocupação do indivíduo ter outra crise. Algumas situações ou locais passam a ser evitadas devido ao medo dos ataques de pânico (medo de sentir medo). A agorafobia surge quando o medo de futuros ataques de pânico leva o indivíduo a evitar situações ou lugares que acredita que causem o transtorno. Isso pode levar esta pessoa a restringir muito os lugares aonde vai ou suas relações pessoais. No caso de Juline, por exemplo, nas piores fases da doença, ela não conseguia ir sozinha na escola de inglês que ficava a poucas quadras de sua casa. “Não conseguia nem tomar banho sozinha, minha mãe entrava comigo no banheiro. Não ficava sozinha no local de trabalho. Meu medo era exatamente esse, ficar sozinha ou ter uma doença incurável”, lembra.

De acordo com a psicóloga, a síndrome do pânico é um conjunto de sintomas que é caracterizada por um período distinto no qual há o início súbito de intensa apreensão de ansiedade inesperada, vem acometido de inúmeros sintomas psicológicos que é sentido pelo corpo como algo real. Durantes estas fobias (medos irracionais) estão presentes sintomas físicos e psicológicos como falta de ar, palpitações, sudorese, taquicardia, tonturas, visão embasada, hiperventilação, tremores, medo de ficar louco, medo de morrer, medo de sair na rua, de ficar sozinho, de lugares fechados, entre outros.

As causas da síndrome ainda são desconhecidas, mas a genética pode ser um fator determinante. Algumas pesquisas indicam que o transtorno, em geral, ocorre sem que haja nenhum histórico familiar, pode vir por um trauma ocorrido com o indivíduo ou simplesmente por predisposição. Mesmo quem não tem o componente genético está sujeitos às crises.

Em especial pessoas com características perfeccionistas, dificuldades para dizer não e exigentes consigo mesmo estão mais propensas a desenvolver. Acomete mais em mulheres do que em homens.

A psicóloga adverte que o tratamento é de suma importância. “O objetivo do tratamento é ajudar o indivíduo a ter uma vida plenamente feliz e a agir normalmente na vida cotidiana. Uma combinação entre medicamentos prescritas pelo médico psiquiátrico e terapia cognitivo-comportamental (TCC) funciona melhor”, explica. A terapia cognitivo-comportamental ajuda a entender os comportamentos e o que fazer para mudá-los. Durante a terapia, a pessoa aprenderá a entender e controlar as visões distorcidas dos estressores da vida, como o comportamento de outras pessoas ou eventos importantes. “A terapia ajuda o indivíduo a reconhecer e substituir os pensamentos que causam pânico, diminuindo o sentimento de impotência ou a perda da autonomia. Além de gerenciar o estresse quando os sintomas ocorrerem, aprendendo a fazer a respiração apropriada de relaxamento”, destaca.

No caso de Juline a medicação e terapia foram fundamentais, pois durante as conversas ela pode entender seus medos e saber enfrentá-los. “De acordo com o meu terapeuta a síndrome pode ter sido desencadeada pela pressão do final da faculdade, sair da vida adolescente e entrar para fase adulta”, conta Juline. A jovem aconselha que é importante “se apegar” com Deus neste momento de crise. “Toda vez que me sentia angustiada, nervosa, em crise, eu rezava, pedia a Deus para ter calma e sempre tive fé que iria melhorar.”

Com o tempo as crises de Juline foram diminuindo, e com isso ela pode diminuir também a medicação. Já conseguia entender que aquilo que sentia era psicológico e poderia ser controlado.

Hoje, sete anos depois, a bióloga ainda tem algumas crises, mas não faz mais uso de medicação. “Faço ginástica, pois o exercício físico libera endorfina e outros hormônios importantes para o cérebro, estou sempre rodeada de pessoas que me fazem bem, amo meu trabalho e rezo muito, tanto para agradecer a cura, como pedir que Deus esteja sempre comigo e que nada possa me abater”, conclui.

Por Rafael Brondani
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Sobre a ABJ

A ABJ é a agência júnior de jornalismo do curso de Comunicação Social do Unasp - Centro Universitário Adventista de São Paulo.

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